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domingo, 25 de julho de 2010

Bruxas, monstros e morte



       A mãe de uma garotinha de quase quatro anos escreveu para contar que estava considerando a possibilidade de tirar a filha da escola. O motivo? A professora conta histórias para as crianças que tratam de morte, falam de monstros, bruxas e de todo tipo de ser imaginário. Para essa mãe, isso gera medo e angústia na filha e, por isso, ela tem pesadelos frequentes. Como nossa leitora não está sozinha nesse tipo de pensamento, vamos conversar a respeito.

       Temos feito de tudo para evitar que a criança sofra, não é? Ou, pelo menos, tentamos evitar que elas tenham contato com tudo o que julgamos que pode gerar dor, ansiedade, angústia e outros sentimentos semelhantes. O tema emblemático nesse sentido é a morte. Escondemos a morte das crianças: esse não é mais um tema de conversa entre pais e filhos, elas não mais participam de velórios e funerais, evitamos que assistam a filmes ou ouçam histórias que trazem a ideia de morte à tona.

       Conheço uma mãe de duas crianças pequenas que assiste a cada filme infantil antes de seus filhos para averiguar se não há cenas que assustam ou trazem a presença da morte. Ela não deixou os filhos assistirem à animação "Procurando Nemo" porque a mãe do peixinho morre e ela não achou adequado que as crianças fizessem perguntas sobre isso. Consideramos esse assunto muito pesado para elas e, por isso, procuramos poupá-las dele, como se isso fosse possível. É preciso saber que não é.

       Não são as histórias com seus enredos e personagens que criam para a criança conflitos, medos e angústias e tampouco apresentam a ela o tema da morte. Essas são questões humanas e, ao contrário do que alguns pensam, os personagens fantásticos e as tramas dessas histórias ajudam a criança a encontrar caminhos para entender e superar, pelo menos temporariamente, o que sente.

       A atitude chamada "politicamente correta" de transformar histórias e lendas infantis de modo a subtrair delas o que consideramos que possa fazer mal à criança ou sugerir o que consideramos "maus exemplos" não faz o menor sentido. Será que esquecemos que o que pode fazer mal a elas é o que está presente na realidade do mundo adulto, agora totalmente acessível a elas?

       Não é hipócrita não mais cantar "Atirei um pau no gato", mas permitir que as crianças assistam a campeonatos de futebol em que jogadores intencionalmente se agridem para levar vantagem? Não é curioso evitar que elas ouçam histórias de bruxas que perseguem crianças, mas permitir que assistam a noticiários que mencionam assassinatos e abusos sexuais de crianças?

        Que as bruxas, os duendes e os monstros, as madrastas malvadas e as crianças órfãs habitem o imaginário de nossas crianças é tudo o que podemos desejar. É que nesse mundo, diferentemente do mundo adulto, elas contam com as fadas e suas varinhas de condão, com os príncipes que salvam as princesas do sono eterno e, principalmente, com um final em que o bem vence o mal.


Escrito por Rosely Sayão-Psicóloga

4 comentários:

  1. É estupidez esconder coisas dos filhos pelas quais ele podem vir a passar... e se alguém da família morrer? como explicamos isso? se eles tem contato através de histórias, do lúdico, de filmes, fica mais fácil explicar que sim, existem pessoas más no mundo, e vc tem que tomar cuidado com elas; sim, as pessoas morrem e viram estrelinhas no céu cuidando da gente lá de cima... elas absorvem melhor a situação e sofrem menos. Parabéns pelo post Carol!!

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  2. ADOREI O SEU BLOG, JÁ SOU SUA SEGUIDORA.
    BOA SEMANA.
    BJOKAS!!!!!!

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  3. Olá, querida!!

    Amei seu blog!
    Poderemos fazer muitas trocas, com certeza...
    Já estou seguindo!!

    BeIJOS

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  4. Obrigada Fer...Que bom que vc está curtindo o blog!
    Beijos

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